quinta-feira, 26 de abril de 2012

As dificuldades são o aço estrutural que entra na construção do caráter.
Carlos Drummond de Andrade
Feliz Quinta Feira....
NÃO SEI DE MIM

Não sei por onde ando
em que águas me banho
em que sonhos me perco
em que desertos afundo os meus passos
em que oásis sacio a sede que me invade
em que leito me deixo amar
em que nuvem ainda sonho
em que estrela ainda brilho
em que lua ainda te procuro
em que rosa ainda me desfolho
em que espinho ainda me magoo
em que sorriso ainda me encontro
em que lágrima ainda me revelo
em que noite ainda suspiro
em que mãos ainda me abraço
ou me deixo abraçar
em que rio ainda sou nascente
em que esquina de mim ainda sou margem
em que canto ainda te chamo
em que almofada ainda te recordo
em que parede surda e branca ainda me confesso

Desconheço quem me ama
quem tem o meu corpo
Fecho os olhos
não quero nem ver...

Procuro o meu rasto e não me encontro
não sei mais de mim
nem que caminhos trilho nesta vida

Perdi o meu rumo
no dia em que me perdi de ti
e nunca mais soube de mim....

São Reis ´


Discriminação racial/Racismo

E tudo começou com o Big Bang!
Fizeram-se os planetas os astros estrelas e coisas mais,
Fez-se azul no céu para todos, por igual;
Surgiram animais de várias espécies,
Entre os quais, os humanoides,
Que mais tarde deram origem aos humanos,
Ditos Homo sapiens, iguais pela forma
Mas diferentes pela cor,
Culpa da pigmentação, coisas de climas,
Diz-se que em África, teve origem a espécie humana!

E com a evolução desta espécie dita inteligente,
Vieram os problemas discriminatórios,
Nos desatinos das cores da derme!
Negros que detestam brancos,
Amarelos que não suportam negros,
Brancos que odeiam todos os outros,
Numa profusão de sentimentos,
De incompreensível entendimento!
Ódios que nascem, como erva daninha
Em searas de gente,
Como se a cor fosse estigma!

Inventam-se direitos de superioridade pela cor da pele,
Quando pelas veias corre líquido igual!
E esta aberração só existe nesta espécie bípede,
Pois na verdade não existem raças,
Mas somente uma raça,
RAÇA HUMANA

José Carlos Moutinho
 
Num voo breve...

Num voo breve...entrego a minha alma nas asas do vento
Na moribunda agonia da vida...na doce solidão da morte
Na melancólica tristeza dos poentes...na bruma do tempo
Nas amarras das gaiolas...no abraço amargurado da noite

Num voo breve...de mim parto...vagando no céu docemente
Silenciosamente...e com uma lágrima no olhar me despeço
Com um grito nas mãos...à terra me entrego serenamente
No mármore branco das palavras...no silêncio dum verso

Num voo breve...numa viagem sem volta no céu sem fim
Esquecida na margem da vida...perdida entre os ciprestes
Menina-Mulher...nostálgica memória daquela que esqueci
Rasgando silêncios...bebendo vazios por caminhos agrestes

Num voo breve...adormeci a solidão...abracei a sepultura
Amordacei nos braços o amor...caminhei rumo à eternidade
Levando no meu corpo uma rosa...no olhar restos de ternura
No coração sonhos desfeitos...nas minhas mãos a saudade

Num voo breve...vou com a noite...de roxas violetas vestida
Vagando no sono eterno...envolta no negro véu da nostalgia
Entoando uma melodia silenciosa...de recordações despida
De rosas vermelhas coberta...voa minha alma branca e fria

Num voo breve...vou no rasto do tempo...no branco da morte
Levo na memória os rostos que amei...os sonhos que perdi
Entre o gesto e a sombra...partirei serena...no clamor da noite
No estertor da vida...no fundo dos meus olhos na dor do fim

  ROSAMARIA
 

DIVAGANDO

Há palavras que de tanto usar se tornam banais. “Parabéns” é uma delas.
Devia haver um outro grau de felicitar alguém por mais um aniversário; o normal, para as pessoas comuns e uma palavra nova, diferente, que até podia ser inventada na hora, para quem se gosta muito.
Por exemplo: Repzigue.
Então, todos os dias se inventavam palavras novas que só tinham valor para duas pessoas, para mais ninguém, mas para elas valeriam tudo, porque eram únicas como as pessoas.
E as pessoas tinham que usar uns caderninhos para ir apontando as palavras inventadas e a quem correspondiam, até que elas ganhassem rosto.
E os que tivessem caderninhos com mais palavras novas eram os mais ricos, os mais valorizados, por terem mais amigos.
Talvez um dia as palavras banais caíssem em desuso e se pudessem dizer as coisas com palavras únicas.
Até não ser assim eu vou cumprindo o rito anual para as pessoas de quem gosto, de uma outra maneira, como eu quero, divagando ou contando histórias.
Tentando fazer-lhes saber que são diferentes e únicas para mim. E merecem ter uma palavra com o rosto delas, que só me façam lembrar delas.

JAGodinho
 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

"Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir." George Orwell

25 de Abril.....Sempre!!!!
Garota de Lisboa
- O seu nome é Liberdade!.....

Chamaram-te Liberdade,

garota de Lisboa,
nascida, depois do adeus,
sobre o verde manto
dos cravos de Abril.

Vi-te, bebé, menina, gaiata,
de encantos mil!...

Cresceste, cresceste,
Liberdade!...

Foste dama, senhora,
mulher madura,
idolatrada por todos,
no campo e na cidade.

O mau tempo e a idade
fustigaram-te o rosto
e esmoreceste, esmoreceste,
Liberdade!...

Teus olhos estão pálidos.
As tuas rugas cavadas
são rios de sofrimento.

- Oh, falsos artesãos da vontade,
calai-vos!.... Que dela dizeis?! ...
- Devassa da boca?!...
- Jamais amordaçada!...

Ai que saudades
eu tenho de ti,
garota!...

(Acácio Costa)
 
Liberdade...

A liberdade de ser é como gotas de chuva na alma,
Como ar novo num dia quente no ventre
Como musgo fresco em presépio de barro velho e amor
Liberdade materna, que arranca os medos e o ardor.

Despoja-te e aprende
Ergue-te no caminho sem traços, sem linhas e sem rede.
Purga-te do que foste e serás,
Constrói o presente, jogo o baralho de cartas:
Desmantela-te num coração em forma de Ás.

A liberdade traz sabor a vento
È como costureira que tira as bainhas do pensamento.
Abrem-se espaços novos e desenham-se roupas novas no corpo.

Despe-te do que pensas ser e reza à noite
Desenha -te, repetidamente, nas notas de música do silêncio…
E cresce como flor ávida por terra fértil, pássaro corajoso no ninho
Chora baixinho…

Liberdade é voar sem tecto,
Rir sem boca
Cheirar a terra que nem louca
E comer morangos verdes que crescem no deserto.

A liberdade faz-se de borboletas a dançar no arco-íris
Sem medo de se perderem.
É luz no céu abrindo mais janelas, trespassando o sol.
É rosa sem espinhos, sementes a erguerem
Faz-te:
Pessoa(a) que e(ras) perdida…
Agora tentando ancorar no pôr-do-sol…

Ana Santos
 
Abril



Havia anos, muitos anos, que o povo esquecera a liberdade

muitos, muitos anos, que havia patronos a dirigirem a vida de todos


gerações que nasciam e morriam sem levantar a cabeça


sem poderem olhar-se ao espelho, sem abrirem a janela do pensamento.


Raros os que rompiam o silêncio opressivo que se respirava na nação


raríssimos os que, arriscando a vida e o sossego, saíam à rua


cantavam nas praças, gritavam a dor de todos os esquecidos.


Os avós reprimiam os netos, os maridos as mulheres, estas os filhos


o silêncio doloroso pairava por sobre todo o território


o degredo, a prisão, a loucura, a morte, a desgraça.


Mesmos os suspiros careciam de carimbos e autorização


os pensamentos escondiam-se nos recantos do cérebro


com receio de os seus ecos serem ouvidos pelos esbirros do poder.


Os encontros eram sempre furtivos e clandestinos


as cabeças espreitavam por sobre os ombros, cheirando o medo.


Pátria, deus e família, fátima, fado e futebol, fome, ignorância, destino


todos de chapéu na mão direita e na esquerda a bandeira


no peito o receio, nas costas o peso do mundo, no bolso a miséria


o futuro destinado e planeado por quem sabia, por quem comandava


a vida regulada pela subserviência, pela sobrevivência, pelo fatalismo


e muita, muita gente, cansada, adormecida, ausente, conformada


e muita, muita gente, que procurava no mundo o que não possuía em casa.


A guerra como pano de fundo, o emprego como moeda de troca


o fatalismo de quem veste de preto por fora e por dentro a bem da nação


as paredes invisíveis que separavam os outros de nós, nós dos outros


os outros que antevíamos com esperança como eleitos da sorte


que achávamos que nunca poderíamos igualar e alcançar


a vergonha de ter de explicar porque não lutávamos


porque deixávamos que nos esmagassem, que nos controlassem


a troco de trinta moedas, de paz podre, de felicidade pobre.


Quatro paredes caiadas, um cheiro a alecrim, uma imagem benta.


Um dia, uma madrugada de abril, um alvoroço anunciado.


A liberdade partiu as janelas e entrou violentamente


pela mão dos mesmos que a tinham ignorado toda a vida


pelo cansaço da força das armas dos que mantinham o poder


pelos braços ao alto dos que não podiam calar mais a desgraça


pelas flores rubras que substituíram as balas desnecessárias.


Gritar até que a vós nos doa, cantar até que valha a pena.


Agora vamos ser felizes, vamos salvar a pátria e o mundo


não haverá mais enganos, dor, servidão, injustiça


finalmente vai cumprir-se o destino do povo e de Portugal.


Nem mais um soldado para a guerra, nem mais um colono!


O povo envolveu-se no turbilhão dos sentimentos, da paixão


tudo parecia, finalmente, fazer sentido, ser urgente, ser real


todos os excessos eram necessários, toda a catarse precisa, inadiável


éramos todos irmãos separados há muito pelos muros da opressão


tínhamos, por fim, um destino comum a cumprir, a honrar.


A Península, a Europa, o Mundo, o Universo, tudo


A embriagues do espaço infinito, a volúpia da liberdade encontrada.


Festejámos tão distraídos que não demos pela passagem do tempo


que não vimos que as praças ficavam outra vez cinzentas


que podíamos falar, gritar, cantar, mas ninguém ouvia


que os novos senhores voltavam a ocupar as velhas cadeiras


que os ecos da alegria louca se estavam a transformar em soluços.


Agora o opressor não está isolado na torre de marfim de outrora


o ditador não mora, mais, no palácio distante e sombrio


os novos donos da nossa vida não têm cara nem nome.


Não se conhece quem são e moram em toda a parte


são difíceis de identificar e, mais ainda, de combater


Já não há salazares, há mercados, não há pide há ratings


os donos da nossa liberdade negoceiam na sombra profunda


o destino das nossas vidas está entregue a entidades obscuras


os defensores do povo, os paladinos da justiça, os heróis de outrora


decidem o destino dos povos nas costas do povo, secretamente.


Todo o poder é corruptor, toda a opressão é criminosa.


Não depende da cor, do estado, do estatuto de quem exerce


As madrugadas de Abril também têm prazo de validade


Deviam ser renovadas sempre que se degradassem



Jose Julio
 
Abril
Se fecho os olhos,
Vejo as cores de abril,
Serpenteando
As chamas da esperança,
E aquele ousado
Orgulho em mim emerge,
Tal euforia
Nos passos de uma dança.

Se ouço o silêncio,
Tudo é melodia,
E a voz do povo
Soa-me cadente,
Acorda em mim
A fé daquele dia.
Embalo o sonho
Ao som de tanta gente

Mas
Se desperto,
Tudo é utopia,
E aquela Grândola
Soa-me distante.
A voz do povo,
Que a dormir ouvia,
Esvai-se em choro
Dolente, constante.

Maria da Fonte
 

terça-feira, 24 de abril de 2012

"A plebe apenas pode fazer tumultos. Para fazer uma revolução, é preciso o povo."
Victor Hugo
Uma Terça Feira cheia de inspiração...
MEU -VIOLINO-SAGRADO…

Do alvorecer das névoas da serena madrugada,
emerge o som claro do cantar do galo,
qual pregão no ventre da praça do povoado.
Viro a esquina do amanhecer
sem vergar a cabeça ,
para que o sol me encontre
e enriqueça o rosado da face que ‘inda ressona,
no meu humano trilho-de-Ser…

Sou mulher…perpétuo-fogo-que-toca-um-clarim
de aromas embriagados nos braços de ti,
meu violino sagrado!
Rosa de sangue corre nas veias da frescura da paixão-rendição
onde um místico mar prossegue ,
rendido a uma verdade –da –VERDADE!

Frio orvalho escorre pela ponta das folhas, a cheirar a calor…
…e os insectos começam a despertar,
ensaiando danças de encantar as chamas -de-amor…
…e as águias levantam-se num majestoso airejar…
…e a água dos rios a exalar sensações,
desliza para o mar numa fálica piroga
a morrer aspirações de fluxo manancial.

Amo o meu amanhecer
…ele é o que foi a noite do meu-ser…

Na mata das névoas,
as ramagens são lenços de cambraia
bordados a margaridas do seio das papoilas rubras do meu amar…

A magia da floresta é pura POESIA num limbo de sensações …

Em si tem o sabor do leite da infância…
…a lonjura das fronteiras da distância…
…os fantasmas das noites de ânsia na totalidade imaginada
do amor por viver…
E o mar de ondas alterosas chama pelas minhas inenarradas paixões…
…e as conchas e os búzios , macambúzios, deslizam nas areias das minhas emoções…

Mulher-raíz…deusa Gaia…florescer das minhas ramas
em cores do amor, ao rebentar o botão da flor…

Na concha-vida abre-se uma escultura a caminho da tentação…
…Vénus-a-nascer…Botticelli-mágico-licor-da poesia-da pintura
ao som das trombetas nacaradas da música de Bach…

Eu…amor…árvore-mulher ansiosa por te ter…!


Marilisa Ribeiro
 
OS CRAVOS ESTÃO DE LUTO

Podem chamar-me
inconveniente,
inoportuno ou bruto,
mas que importa,
se "os cravos estão de luto?"
Eu tenho a alma dorida
e a dignidade flagelada,
corroída e ferida.
... Digam o que disserem,
porque eles podem,
nada muda o que penso
dos criminosos sem rosto,
e mesmo inconveniente,
inoportuno e bruto,
digo, afirmo, repito,
que por causa do sistema,
gatuno, gasto, caduco,
dos criminosos que podem,
"os cravos estão de luto!!!"
Duarte Arsénio 
 
 
RECEITA

Ingredientes:
- vogais
-consoantes
-uma pitada de acentos
-sinais de pontuação q.b.
-carinho
-dedicação

Escolhem-se cuidadosa e criteriosamente todos os ingredientes.
Limpam-se de impurezas.
Juntam-se carinhosamente formando frases (versos).
Misturam-se lentamente, envolvendo pouco a pouco com carinho e dedicação.
Adicionam-se ( opcional) uns desenhos.
Deixa-se a levedar.
Vai a imprimir.
Serve-se com uma capa/cobertura a condizer.
Polvilha-se com muita ternura.
Apresenta-se aos leitores.

Fátima Guimarães 


"Sonhos de Abril"

Chora Abril retalhado,
na doutrina do poder;
seguindo rumo ao passado,
com a Liberdade a sofrer...

I
No florescer da Pastagem,
perante um lençol mimoso,
avança Alentejo vaidoso,
respira desprezo e coragem...
Dá-nos ar da sua imagem,
num sorriso retratado...
Disfarça o ser magoado
que sua alma entristece...
Enquanto o povo padece
chora Abril retalhado...

II
Lágrimas - já repassadas -
Penando no leito do rio...
Sente um enorme vazio
sofrido em tantas chuvadas...
Brechas, enfim, reparadas,
coisas que dizem fazer...
Passa na água a correr
tal percurso viciado...
Acena em caldo entornado,
na doutrina do poder...

III
Lições de memória pequena,
que a consciência ditou...
Nobre, o poeta trovou:
“Grândola vila morena...”
Aperta saudade amena
num coração já cansado...
Sangra sozinho no prado,
enferrujando o celeiro...
Verga perante o dinheiro,
seguindo rumo ao passado...

IV
Veste em ar de graça
a acusação, que promete...
Lavrada no Jet-Set,
semeada na Lei da Caça...
Pobre é gente de raça;
povo que sabe perder,
o teu contento é viver
na ambição do sustento,
esquecido no Mandamento,
com a liberdade a sofrer...

António Prates
 

domingo, 22 de abril de 2012

"O universo é uma harmonia de contrários."
Pitágoras
Feliz Domingo!!!
Prazer? Não! Dor...

D roga
R ealidade do nosso mundo
O lhai... Prazeres do corpo
G anância doentia... Poço sem fundo
A lma sem vida... Vida sem porto

O lhai... Nem vós sabeis

P ergunto... Não há resposta
R evolto-me porque cresci... Vós não cresceis
A lmas que ao mundo viras-te as costas
Z ango-me porque não consigo
E levar-vos à razão
R azão? Talvez castigo

Q uebro-me, porque nada faço
U m momento apenas para escrever
E sta é a carta... O meu laço

M omento que eleva meu ser
A lmas perdidas sem ajuda
T eimais em não me ouvir
A vossa dor é aguda

Vivei como eu, olhemos o mundo a sorrir

José Alberto Sá
 
em cada silencio silibado
em cada sonho
dedilhei nos teus braços
todas as palavras

e fomos pássaros
esvoaçando em segredos

que cumprimos
em volúpia de asas
Ana Madureira 
 
PRIMAVERA AO VENTO

Primavera és uma miragem,
com este frio de inverno.
Até dá dó ver a folhagem,
cai como as folhas dum caderno.

Primavera como eu queria,
que fosses quente como outrora.
Mas viraste assim tão fria!
Nos entristeces agora.

A Primavera é paciente,
espera o tempo passar.
Deste Inverno inteligente,
com as andorinhas a chegar.

As minhas árvores vestiram-se,
de folhas e de flores.
E as papoilas nos campos.
Coloriram-se de mil cores.

Floriu ao amanhecer,
lindas flores são aquelas.
Flores que eu vou colher,
são rosas brancas e amarelas.

As rosas colorem o amor,
as vermelhas exalam paixão.
Belas com luz e calor,
um só ramo é sedução.

Joaquim Barbosa
 
Tempos idos…


As lembranças reabrem-se,
E acordam as feridas…
Sentem os sonhos do passado…
Sofrem as ilusões, por momentos,
Em delírios abafados, desfraldam-me o peito…
A alma desfalece-me,
Deserta e ansiosa, por outros tempos.
Por instantes, a vida deixa de acontecer…
Desfeita e húmida.
Os sentimentos, que albergava,
Desfalecem… diluem-se, no tempo,
Por entre os dedos em desassossego.
Acorrentada, procuro-me a onde fui feliz…
Mas o tempo envelheceu e ficou longe…olvidei o caminho,
O horizonte…talvez os sonhos cessem e eu esqueça…
Amo em silêncio…rasgo beijos, serenos sem prazo,
Em sopros de vento…separados …
Por uma viagem, por um céu aberto,
Por um suspiro, desviado…perdido no tempo,
Mesmo distante…
Chamo por ti…hoje e constantemente.


Telma Estêvão