terça-feira, 27 de março de 2012

QUENTE
Quero-te a queimar a pele, de alto a baixo do meu tronco
Ver-te vermelhar de fogo, nos lábios acabados de morder,
Erguer o queixo num movimento levado pela mão que te entra no cabelo
E sentir-te a contorção da dorsal encaixada nas minhas mãos aquentadas.
Quero-nos a acabar de despir camisa e blusa, desapertadas,
Ensaiar uma dança de braços em urgidos sacudir de mangas,
Levar dedos e palma em rota feita por acima de ti, rumo à curva do pescoço
E raspar-te, entre o eriçado da nuca, e desviar o toque para os teus ombros.
Quero descer digitares e palmares para o centro das costas,
Rodar os pulsos e dar impulso às mãos, para que te tragam,
Apertar-te, com a força que não aperta,
Laçar-te, com os braços que nem atam
E deixar-nos ebulir, a ponto de fervura.
Depois, vou querer que tu te deites;
Que então me sintas a sobrevoar-te,
Que acrescentes ao teu o meu calor:
Que te faça ressudar entre os poros
E me faça deslizar escorregadiamente, de baixo a alto do teu tronco…
Quero-te num atrito que não dá fogo inflamado,
E que vem da vontade ardente que não queima.
Sérgio Lizardo
 

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