ah estes dias de magia
ah estes dias de magia
suprema
de nada fazer
para erguer um poema
isto é que é vida
chegar ao meio da ponte
e respirar um verso
um só verso que seja
mesmo que poluído empoeirado
com peixes brilhantes
mas mortos
no rés do chão de um olhar
ou percorrer as mãos pelos bolsos
inventando um buraco
para que nos enfiemos
lá dentro inteirinhos
quando o penteado
o vento nos estraga
pior seria ser mordido
neste banco de jardim
pela dentadura
do mário cesariny
que saltara à má fila
de um dos seus versos
mas hoje
hoje estou com sorte
é de facto o meu dia o meu dia
fuzilei uma aranha
mas com requintes de malvadez
está morta
e estando morta
dizem que é dinheiro à porta
e a fortuna aqui está
ei-la em todo o esplendor
é imensa
extraída de um poema
do camilo pessanha
e há que fumá-la com urgência
como quem cria nuvens
um pássaro um cachorro um elefante
realmente
o céu é para os doidos
e a terra
para os que não têm cura
mas isto é que é vida
um copo de alfred jarry
para imitar o absinto
um beijo traiçoeiro de jesus
na face de judas
um poeta escrito
por um poema
e vejam é puxado
um cavalo
por uma carroça
e vamos todos para a choça
se continuarmos
a dizer que pisamos as beatas
à porta da igreja
mas isto é que é vida
ah estes dias de magia
suprema
de nada fazer
para erguer um poema
e chegar à tasca
e o copo de vinho ser pago
à maneira
peculiar do luiz pacheco
e sairmos
para a avenida atrás da albertina
a varejeira em fuga
do alexandre o’neill
e por fim adormecer
com um poster da playboy
para aquecer os pézinhos
Xavier Zarco
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