sábado, 11 de fevereiro de 2012

ah estes dias de magia

ah estes dias de magia
suprema
de nada fazer
para erguer um poema

isto é que é vida

chegar ao meio da ponte
e respirar um verso
um só verso que seja
mesmo que poluído empoeirado
com peixes brilhantes
mas mortos
no rés do chão de um olhar

ou percorrer as mãos pelos bolsos
inventando um buraco
para que nos enfiemos
lá dentro inteirinhos
quando o penteado
o vento nos estraga

pior seria ser mordido
neste banco de jardim
pela dentadura
do mário cesariny
que saltara à má fila
de um dos seus versos

mas hoje
hoje estou com sorte
é de facto o meu dia o meu dia
fuzilei uma aranha
mas com requintes de malvadez
está morta
e estando morta
dizem que é dinheiro à porta

e a fortuna aqui está
ei-la em todo o esplendor
é imensa
extraída de um poema
do camilo pessanha

e há que fumá-la com urgência
como quem cria nuvens
um pássaro um cachorro um elefante

realmente
o céu é para os doidos
e a terra
para os que não têm cura

mas isto é que é vida

um copo de alfred jarry
para imitar o absinto

um beijo traiçoeiro de jesus
na face de judas

um poeta escrito
por um poema

e vejam é puxado
um cavalo
por uma carroça

e vamos todos para a choça
se continuarmos
a dizer que pisamos as beatas
à porta da igreja

mas isto é que é vida

ah estes dias de magia
suprema
de nada fazer
para erguer um poema

e chegar à tasca
e o copo de vinho ser pago
à maneira
peculiar do luiz pacheco

e sairmos
para a avenida atrás da albertina
a varejeira em fuga
do alexandre o’neill

e por fim adormecer
com um poster da playboy
para aquecer os pézinhos

Xavier Zarco 


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