domingo, 29 de janeiro de 2012

UMA TAÇA DE VINHO FRUTADO


UMA TAÇA DE VINHO FRUTADO

I
Quatro pés dois corpos o beijo
Findo neles o desejo
Hora de enfrentar orgasmos
Estremecidos espasmos

_ O quê! Foram só os meus!
que dirá o bom Deus
vendo que me mentiste;
sentiste! não fingiste?
ah! afinal estava embaído
sobre se teus ais tinham saído
da fonte do prazer!
q’ mais iria acontecer?

Dois toques, um gemido
_ Que foi chamaste-me querido!
não? deve ser da ternura
confusa esta loucura...

Dois meses, sem menstruação!
Ai Jesus que aflição...
_ A culpa é tua
puseste-te toda nua

Lágrimas soluços tais...
Era hora de contar aos pais
_ Vou dizer q’ me violaste!
_ Mentira! Tu concordaste

II

O que era amor esbatia-se
Irreversível perdia-se
Num diálogo, tudo menos familiar
Constante o acusar
De costas agora viradas
Entre dores nunca imaginadas
Apeçonhentando um feto
Q’ mais tarde só pediria afecto;
Nem a justiça do tribunal
Perceberia onde estaria o mal

E as lutas agudizavam-se
Os jovens atormentavam-se
Num fim q’ estava na maternidade
À distância duma eternidade;
Uma palmada, algum choro
Sorrisos, que desaforo!
O recém-nascido sempre tinha pais
Avós tios – e viria muito mais

Teria a dor sem explicações
Até compreender tolas razões
De ser rico desde nascença
Duas casas – descrença

E foi crescendo, mudando
Dizem para pior – foi andando
Trajou só com o destino
Roupa de fresco linho
Sapatos, andarilho de sandálias
Quando passeava com dálias

Fugiu célere dos cravos
Sem espinhos, muitos agravos
Envelhecendo, morrendo
Risos rezas, sofrendo

III

Perguntaram: e como te chamas?
_ Eu? Sou Francisco Lamas
minha vida é um lodo
somando metades não dá um todo!
Q’ em cada lado vivi por inteiro
Natal em Dezembro, outro em Janeiro
filhos não tive, por medo
de falhar desde cedo

_ Não desistas na primavera
vivemos noutra era
o mundo está mais aberto
e o dantes errado agora é o certo!
esta última é de sábio
conheci-o, de seu nome Flávio.

_ Eruditas palavras desse amigo
vi-o como sem abrigo
e já o escutara anteriormente
ouvindo D. Clemente;
mas a minha vida não se compadece
com salmos ou prece
por ser um bolo recheado
taça de vinho frutado
quadro pintado de branco
asfixiado por um negro pranto.

Cito Loio


Sem comentários:

Enviar um comentário