“Anda, anda rir-te comigo…”
parece pedir o dia quando acorda de mansinho e desponta
nas altas esferas da madrugada a sorrir maroto e apaixonado à Lua,
enquanto acaricia o céu com as suas vestes, de mansinho, num cortejar
descontraído.
Neste deambular tranquilo e sempre surpreendente na
segurança do constante acordam todas as casas, espraiam-se os lençóis
despertos no arejar das abertas portadas e abrem-se braços de carne e
rio a correr intempestivos pela vida que nada pediu a não ser o ser
aceite, o ser vivida, e que raramente é sentida, mas hoje não. Hoje, o
dia decidiu pedir ao tempo para sorrir com ele, para parar o inexorável
compasso do tique-taque no peito das humanas gentes, para hiberna-los
nos gestos e descongela-los lentamente, para que não se esqueçam de como
é bom sorrir, para que não esqueçam que têem de dar tempo à alma de
conversar com o coração, de se dar tempo a si antes de serem explosão de
tarefas, antes de se agrilhoarem à obrigação.
“Anda, descansa. Olha para mim! “
parece o dia dizer e embala-te num abraço aconchegante onde, quer faça
chuva ou quer faça sol, há sempre um reconfortar gratificante de quem só
espera sem desesperar e tudo dá sem nada pedir mesmo quando o que
recebe em nada faz sorrir.
“Anda, vem comigo dançar.
Deixa-te
inebriar pelo canto das aves, pelo vôo rasante aos sentidos dos beirais,
pelo despontar da pétala, pelo ondular do caule, pelo beijo da
borboleta, pelo polinizar do céu na crista das vagas, no azul indómito
do mar.
Anda, vamos cruzar sinfonias, reescrever a clave de sol, reinventar a vida, sermos mais nós”
parece pedir o dia e o coração que tudo sabe, serena-se e no bater
ritmado ensaia os passos da dança que tece nas veias com todo o cuidado.
É tempo de se cuidar, é tempo de parar, olhar porque o azul só é o céu por nele poder conter o “a”mar!
Ana Fonseca
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