Património.....emocional
Procuro o silêncio na melodia que me acompanha e ameniza os sentires.
Procuro o silêncio na melodia que me acompanha e ameniza os sentires.
Sou
náufraga neste tempo que se escoa e deixo-me levar na ampulheta como se
em cascata navegasse à descoberta de uma foz que me alimenta, que é mim
o sustento, a cadência, a similitude, a esperança.
Em cada precioso momento, lapido o instante num concerto só meu.
A
minha batuta é o bater compassado do meu coração, as cordas são os
dedos que se apressam no segurar do aparo, as teclas são as pálpebras
que beijam com carinho o soalho, que me protegem quando me ofusca o
orvalho ou o grito do luar a despontar no permeio de um extasiante raio
de sol.
Todo o meu ser vibra num doce orquestrar e
deixo-me voar em direcção à luz, meu porto, meu mar e aí me perco na
imensidão pois só assim me sei encontrar, mais simples, mais vibrante,
mais pungente e cantante ao ritmo da única e singular nota que me compõe
e em mim é um mundo a desvendar.
No meu eterno viajar
deixo aflorar um hesitante pé neste palco, terna liana que me prende à
matéria, que me faz mais terreno o olhar. Assim me percebo, me orquestro
e no espectáculo que contemplo encontro mágoas, dores e lágrimas que
abraço e sossego num incontido desaguar mas também encontro sorrisos,
alegrias, momentos exultantes de partilha e uno que me fazem brilhar.
Nesta
dualidade entre palco e vôo, entre terra e ar, entre alegria e dor,
entre medo e acreditar, ergo o meu património num lugar só meu, onde só
eu consigo chegar mas onde todos se abraçam em sentimento num único e
singular Estar.
No meu património todos habitam o verbo amar!
Ana Fonseca
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