sábado, 10 de março de 2012

DESTINO

A mulher, de vestido branco esvoaçando no vento, seguia um destino. O destino tecia a teia da vida que seria a da mulher de vestido branco esvoaçando no vento. Por entre as árvores que pareciam movimentar-se, a mulher aparecia e desaparecia. Quem a via, tinha a percepção que procurava algo. Era algo que não estava no exterior de si própria. Talvez num passado longínquo do tempo da inocência. Talvez num destino que se quebrara algures e que urgia recomeçar. No entanto, o destino continuava a tecer outra vida para ser a da mulher de vestido branco esvoaçando no vento.
Tão denso era o entrançado das árvores que o sol, só a custo e por breves instantes, entrava no mundo por onde a mulher seguia. Era um mundo redondo; um mundo dentro de uma consciência. Do lado de fora nada se via. Só um andar tão leve e suave que não deixava ouvir qualquer ruído. Aos olhos de quem a observava, a mulher parecia não tocar o chão. Ou não queria. Andava em busca de um lugar a fim de cumprir o seu destino.
Sozinha na sua vida de pessoa cansada de pessoas. Acompanhada na sua vida de amor pela Ilha, pelo mar, pela abundância doada pela natureza.
Tinha deixado para trás as cidades. No seu mundo redondo, porque dentro de uma consciência, o seu olhar não nos desvendava os segredos escondidos na sua alma de mulher que procura.
Mas, ela não era a construtora do seu destino. Este tinha sido entrançado com os mais belos fios que lhe eram dedicados. Porque a mulher que deseja o silêncio, merece partilhar os sons e os aromas da vida dos deuses. E abrir os braços para receber as bênçãos que caem abundantemente do generoso firmamento.
Um rosto que se pressente tranquilo. Mãos que apanham o cabelo num jeito desprendido de interesses menores. Muda de direcção. Outros caminhos estão à sua espera.
Na clareira que se adivinha no tempo do mundo, o seu lugar surge-lhe por conta do destino. É na moradia dos sábios, aberta às crianças de todas as raças e à mulher que abandonou as cidades porque estas não souberam responder às suas perguntas. Moradia sem portas, janelas ou paredes. Em pleno universo, entre o verde e o azul da Ilha. Sem receios, com a tranquilidade única dos que encontraram o seu espaço, a mulher senta-se sobre os joelhos e levanta os braços para agradecer. As crianças fazem, à sua volta, uma corrente de amor e gratidão. E cantam como só elas o sabem fazer…

Maria da Conceição Brasil


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