quinta-feira, 17 de maio de 2012

AS PRECES DO AÇUDE…

Quando procuro o silêncio
No cancerígeno ruído da cidade
Onde se guerreia a paz
Com a impune tonalidade da palavra
Com a poeira batida do tapete
Que se sacode em varandas porcas e inundas
Com os detritos que voam levados pelo vento
Subo a ponte
Centenária como centenário é o riacho
Que lhe toca as paredes envelhecidas
Os meus passos levam-me ao açude
Que ao longe contrasta com tudo o que abomino
A sua queda tem o som de preces
Que só o meu ouvido conspurcado de ansiedade
Consegue assimilar
Aquele tombar de água fresca
Sempre renovada
E de tez transparente e cristalina
Enche-me o peito rejuvenescido
E a alma do silêncio que procuro
Não tem voz, nem olhar que me fite as faces
São apenas as preces do açude.

ÂNGELO GOMES
 

Sem comentários:

Enviar um comentário