terça-feira, 10 de abril de 2012

INAUGURAL

A luz desenha um friso ténue sobre os muros, deflagrados os limites por onde cresce: uma folhagem errante.
Abro as janelas para ver deslizar a paisagem pelo néon dos olhos. Essas sombras me lembram uma possível tarde encoberta numa neblina marítima
e as horas passam em frente à alameda. Debruada -
sob a solidão verde das árvores.

Assumo a decisão de acreditar, nenhuma dúvida me perturba ou invade os sentidos, escrevo em páginas a minha lucidez,
como um vidro desfilando a existência - soubesse a sombra ténue sobre os muros.
Acredito: nos edifícios erguidos e nos peixes do mar,
atravessar o vento moldado em aves longínquas ou ou ou
voltar pela noite ao convívio das outras árvores da memória.

A luz e a sombra por arestas,
um silêncio panorâmico desce em partículas ao fundo da avenida – não sei entender mais que uma álea de plátanos
espelhada na circunstância do céu límpido. Pela tarde: nada e a tua voz em cristais me estende a cesura dos lábios.

Uma linha férrea. Viajar, a certeza de que o tempo nos aproxima da marginal: combinámos a saída no poente, não falaremos da morte por convicção ou ou ou
por não haver muito mais para dizer – a esplanada
por dentro da noite
quase líquida
:

o desenho do mar quando a sombra inaugural do teu rosto.

CARLOS FRAZÃO
 

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