sábado, 4 de fevereiro de 2012

 INSANA LUCIDEZ

Rios de tinta
eu deixo no papel,
são relíquias minhas
por entre os olhos desventrados,
são o cume da montanha
que me pulsa nos punhos.

O sol é uma romã aberta
que reflecte o ácido
que sinto nas entranhas,
fico-me a rasgar a terra
donde sai água cristalina,
fico-me no esconso
onde os pássaros fazem ninho
e agarro os dias
que vão passando incompletos.

Procuro-te insano
por todos os lugares sombrios
em que as noites
tomam formas vampíricas
onde o amanhã se esfuma
no livre crepitar das labaredas.

Não tem de haver arco-íris
para que o sol aqueça
as cores agrestes dos telhados.
Não tem de haver lágrimas
para se sentir saudade.

Pode o frio trespassar a pele
e deixar a alma gelada,
pode haver trovoadas
para além dos relâmpagos,
que terei sempre nos dedos
um rio permanente
enquanto houver
uma nascente nos teus olhos.

Francisco Valverde Arsénio

(Pintura de Armando Alves)


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